sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Dê-me licença, pois não quero ser mais nada além de descanso, não quero sínteses racionais, quero a elaboração do corpo inerte, soltas borboletas-pensamentos pelos jardins da preguiça, puro direito ao ócio, efêmera inanição do racional.
Por favor, me deixe quieto, não me faça pedidos, não quero ser nada além de semente que adormece. Durante todo o ano fui raiz, arvore e fruto. Cultivei, cuidei e alimentei. Fui além... 
Evaporações emocionais, armazenamentos intelectuais, precipitações, infiltrações, meus elementos físicos, químicos e emocionais, passei pelo ciclo biogeoquímico da minha vida, do meu ecossistema, do meu ciclo anual, agora quero hibernar. 

“Eu quero uma licença de dormir,

Perdão para descansar horas a fio,

Sem ao menos sonhar

A leve palha de um pequeno sonho.

Quero o que antes da vida

Foi o profundo sono das espécies,

A graça de um estado.

Semente.

Muito mais que raízes.”

Adélia Prado


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